Para quem aguarda por uma cirurgia ortopédica, cada dia faz diferença: é um dia a menos de dor, um dia a mais de qualidade de vida. Por isso, o Hospital da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG) promove um grande mutirão de cirurgias eletivas de ortopedia. Serão 306 procedimentos de quadril, joelho e mãos, que irão fazer fluir a fila de espera por cirurgias eletivas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Atender em seis meses a quem aguardou por até seis anos: esse é o objetivo do mutirão, como pontua o reitor da UEPG, professor Miguel Sanches Neto. A Universidade inova ao optar por atender às cirurgias ortopédicas, em um mutirão inédito. “Nos 14 anos de existência do Hospital Universitário da UEPG, esta é a primeira vez em que haverá um mutirão de ortopedia: um dos mais complexos e uma das maiores listas de espera por cirurgias eletivas”, destaca. “A UEPG está fazendo isso otimizando os recursos financeiros já destinados para o hospital, ou seja, sem aumentar as despesas do nosso HU. É uma forma de retribuir para a população naquilo que ela mais precisa”.
Na sala de cirurgia, a resolução de uma espera de cerca de três anos: Douglas Ferreira, 56 anos, passou por uma artroplastia de quadril, ou seja, a colocação de uma prótese na articulação entre a perna e a bacia, do lado esquerdo. Deitado no leito da Clínica Cirúrgica, poucas horas depois do procedimento, ele mal podia conter a animação: “Olha!” – E mostra os pés alinhados. – “Era uma perna mais curta que a outra. Agora são iguais!”.
Como a maior parte dos problemas de saúde, o do Seu Douglas teve origem complexa. Começou com uma lesão no menisco do joelho, que ele foi deixando de lado, prejudicou outras articulações e chegou à necessidade da artroplastia. A primeira consulta com indicação desse procedimento cirúrgico no HU foi em abril de 2022. Depois, ele passou por outras consultas, palestra de orientações pré-cirúrgicas, exames e agendamento. “Quando eu fiz a palestra, eu já tinha realizado todos os exames necessários. São mais de 20 exames. Então a minha [cirurgia] já saiu mais rápido que o normal, ainda”. A média de espera entre a primeira consulta e a cirurgia, para esse procedimento, é de quatro anos.
É uma fila de espera que foi bastante agravada pela pandemia de Covid-19. “Esses pacientes estão vivendo com dor, com limitação, perda de trabalho, muitas vezes com a família tendo que se mobilizar para poder estar cuidando deste paciente”, explica o diretor técnico do HU, Marcelo Youngblood. “Então, essa iniciativa do mutirão vem na tentativa de agilizar o processo e tentar resolver o problema dos pacientes da maneira mais rápida possível”.
Procedimentos
Durante o mutirão, que terá início em novembro, com as triagens, consultas pré-operatórias e os primeiros procedimentos, serão realizadas 306 cirurgias ortopédicas, sendo 100 procedimentos especializados em quadril, 75 em joelho e 131 em mãos.
A diretora geral dos hospitais da UEPG, professora Fabiana Postiglione Mansani, explica que o mutirão não interfere na rotina do Centro Cirúrgico do HU. “Esse mutirão será realizado aos finais de semana, assim como as consultas de acompanhamento. Esperamos propor novos mutirões, na sequência, para dar vazão às demais listas de espera por cirurgias eletivas”, antecipa.
“O público-alvo desse mutirão são pacientes que estão aguardando há no mínimo quatro anos para realização da cirurgia, com limitação funcional, de trabalho, com dor, e principalmente adultos jovens”, explica o diretor administrativo do HU-UEPG, Simonei Bonatto. O chamamento para o mutirão segue a lista de espera do SUS, que está disponível para consulta no site do HU.
Hoje, são cerca de 250 pacientes na lista de espera para os procedimentos de quadril e 60 aguardando a colocação de prótese de joelho no hospital da UEPG. No ritmo normal do Centro Cirúrgico, em que também acontecem outros procedimentos eletivos e emergenciais (o HU é referência para cirurgia geral, ortopédica, pediátrica, otorrinolaringologia, ginecológica, vascular, entre outras), são realizados, em média, dois procedimentos por semana de cada uma destas artroplastias (de quadril e joelho). O hospital tem registrado, todos os meses, números recordes de cirurgias, mas o mutirão deve permitir agilizar ainda mais o andamento da lista de espera pelos procedimentos eletivos.
Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, no estado há cerca de 75 mil pacientes aguardando cirurgias eletivas. “A fila nunca cessa, mas o que precisamos é garantir que as cirurgias sejam feitas no prazo, acelerar os que já estão lá há anos e os que entram todos os dias. Precisamos balancear esse processo, que é grande e envolve muita gente”, destaca o secretário da saúde, César Neves. De janeiro a agosto de 2024, o Paraná realizou 442.259 procedimentos pelo SUS, o maior número de eletivas registrado nos últimos 10 anos.
Depois da tão aguardada cirurgia, seu Douglas mal podia se conter no leito. “Será que logo vão me deixar dar uma volta?”, perguntou, ansioso. Queria testar logo o quadril novo, que ele contou que estava considerando como um presente antecipado de aniversário, já que a cirurgia chegou 16 dias antes do aniversário de 57 anos. “Agora vamos aguardar o pós-operatório. Tem a dor, tem o tratamento, mas se ficar 50% da dor que eu tinha, já é vida nova, é qualidade de vida”, comemorou. “É só quem tem esse tipo de coisa que sabe o que é sofrer. Eu não conseguia me acocorar, ficar de joelho, colocar uma meia, um sapato, dependia de tudo para minha esposa fazer para mim. Até um banho, às vezes precisa se abaixar e não consegue. Então, pelo menos, volta a vida normal. Torcendo pra isso!”.