Especialista aponta falhas no acolhimento de autistas após agressões em PG e RJ

O neuropsicopedagogo Leonardo Costa propõe medidas simples para tornar estabelecimentos mais seguros e acolhedores para autistas

Durante este mês, quando a campanha Abril Azul mobiliza o país na conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), alguns casos que ocorreram no Paraná e no Rio de Janeiro acenderam um alerta sobre a urgência de preparar melhor os espaços privados para receber pessoas com autismo.

Um dos episódios aconteceu em Ponta Grossa, no Paraná, em março. Um vídeo mostra um barbeiro agredindo uma criança autista durante o atendimento. O caso gerou comoção e revolta, levou à abertura de um inquérito policial e o profissional foi indiciado por lesão corporal e constrangimento ilegal, segundo a Polícia Civil. A família relatou que a criança estava incomodada com o corte e tentou se afastar, o que teria irritado o barbeiro, que a imobilizou de forma violenta.

Em setembro de 2024, câmeras de segurança registraram um professor de capoeira derrubando com uma rasteira um aluno autista de 11 anos, durante aula em uma escola particular de Guaratiba, no Rio de Janeiro. A mãe só teve acesso às imagens seis meses depois. Segundo ela, o filho teve dificuldades em um exercício e, após uma confusão ao tentar pegar uma bola com colegas, acabou sendo agredido pelo professor.

Diante da repercussão dos casos, o neuropsicopedagogo, Leonardo Costa, especialista no atendimento a pessoas com TEA, reforça a necessidade de capacitação adequada por parte dos empreendedores, especialmente aqueles que lidam com o público infantil. Ele destaca que episódios expõem uma falha estrutural no acolhimento de pessoas com autismo.

“É fundamental que os prestadores, ao se proporem a realizar um trabalho, busquem se aproximar e entender melhor o seu cliente — no caso, pessoas com Transtorno do Espectro Autista”, afirma. Para o especialista, essa postura, além de respeitosa, permite conduzir o atendimento de forma mais humanizada.

“Como as pessoas com TEA apresentam um funcionamento neurológico distinto, é necessário adaptar e flexibilizar os ambientes para que elas sejam verdadeiramente incluídas”, complementa.

Pensando nisso, Leonardo Costa elenca dicas práticas para empreendedores que desejam tornar seus estabelecimentos mais acessíveis a pessoas com autismo, especialmente crianças.

Estímulos sensoriais

O especialista também chama atenção para a hipersensibilidade sensorial, comum entre pessoas com TEA, e destaca que tarefas, como de cortar cabelo, podem envolver diversos estímulos desafiadores — como o barulho de máquinas, variações de temperatura, ambientes com muitas conversas, além das texturas e cheiros de produtos.

“Sabemos que muitas crianças com TEA apresentam hiperfoco em temas como desenhos animados, personagens ou animais. Ao identificar esse interesse, torna-se mais fácil personalizar o momento, tornando mais atrativo e menos estressante”, orienta Leonardo Costa.

Ele recomenda estratégias simples, como estabelecer vínculo com a criança, fazer pausas estratégicas e adequar o som do ambiente. “Esses cuidados fazem toda a diferença no bem-estar da criança e promovem uma inclusão mais efetiva”, afirma.

Formação contínua

“Considero de extrema importância o acesso à informação científica e à formação contínua sobre o Transtorno do Espectro Autista, não apenas para profissionais da saúde e da educação, mas para todos os que prestam serviços que envolvam relações interpessoais”, defende Leonardo ao destacar que esse conhecimento deve se estender a todos os profissionais que atuam com atendimento ao público.

Ele ressalta a importância da formação baseada em evidências. Segundo o especialista, profissionais que se dedicam a se aperfeiçoar nessa área oferecem um atendimento mais personalizado a um público singular, que merece todo o cuidado e respeito.

Inclusão de autistas no Paraná

O Paraná é referência no tema. Desde 2020 o estado emitiu mais de 36 mil carteiras Ciptea e registrou um crescimento de 470% nos últimos dois anos. Em 2024 o governo sancionou o primeiro Código Estadual da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, que consolida leis e diretrizes envolvendo saúde, educação, inclusão no mercado de trabalho e combate à discriminação.

Na área da educação o impacto já se faz sentir. Segundo o Censo da Educação Básica o número de estudantes autistas em salas regulares saltou de 18.895 para 28.927 em poucos anos, o que representa um aumento de 53,3%. Esse crescimento também é evidenciado no consultório de Leonardo, que atua com o avaliação e a orientação de pacientes e familiares.

“A escola é um dos principais ambientes para promover a inclusão, mas o acolhimento precisa se expandir para toda a sociedade. Cada vez que um espaço se adapta, ele contribui para um mundo mais justo e menos hostil”, reforça Leonardo Costa.

Assessoria de Imprensa

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