A delegada Ana Paula Carvalho, do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes de Ponta Grossa (Nucria), participou do episódio #102 do Pontagrossauros Podcast, nesta quinta-feira (21). O tema da conversa foi sobre o trabalho de proteção a crianças e adolescentes vítimas de violência e a importância das denúncias para fortalecer a rede de proteção.
Durante o bate papo, a equipe do podcast perguntou qual o tipo de ocorrência mais atendido no Nucria. A convidada responde: abuso sexual. Ana Paula ainda acrescenta que, de quase todos os casos atendidos, os autores do abuso estão dentro do núcleo familiar. “99% dos casos os autores de violência sexual, principalmente contra menores de 14 anos, são pessoas da família, ou muito próximas: aquele vizinho que vai na sua casa todo dia, o padrinho, o tio, o avô, o pai, a mãe. E me refiro também ao sexo feminino, porque mulheres são autoras desse tipo de crime”, relata.
A delegada explica que, geralmente, o abusador escolhe uma vítima e tenta ganhar a sua confiança, com agrados, presentes e gestos de carinho. E, assim, os atos vão progredindo. Por esse motivo é importante conversar com as crianças. “Se ela não souber o que está vivenciando, como vai denunciar?”, questiona Ana Paula. “A gente precisa dizer para ela ‘você tem essas partes íntimas e ninguém pode tocar!’. Por isso que é importante essa fala dentro de casa, para que a vítima tenha abertura e saiba a quem recorrer”, reforça.
Quando não há esse diálogo, é difícil para a criança relatar e denunciar o abuso. Até que isso aconteça, a probabilidade é de que ela já tenha sido violentada várias vezes. Outro agravante da situação é a ameaça contra a vítima, caso ela conte o crime para alguém. “Eu já ouvi crianças dizerem que se submeteram a um tipo de violência porque o agressor falou que se não fosse com ela, seria com o irmão. Então para preservar o irmão mais novo, ela acaba se submetendo”, relata Ana Paula.
Ana Paula Carvalho também destaca o papel importante da escola. “A escola também tem uma importância na questão das denúncias de todo tipo de violência, seja sexual ou física. Depois da família, a pessoa que tem maior convivência com os nossos filhos hoje é o professor. A escola é extremamente necessária e é uma porta de entrada para as denúncias contra crianças e adolescentes.”
O Nucria de Ponta Grossa realiza inúmeras palestras nas escolas sobre abuso sexual contra crianças e adolescentes. Com uma abordagem lúdica, é conversado com os alunos quanto a partes do corpo que não podem ser tocadas, ilustradas no “semáforo do toque”. Cada cor tem um significado:
- Vermelho: não pode tocar de jeito nenhum;
- Amarelo: atenção a toques perto das partes íntimas. Exemplo: barriga;
- Verde: lugares que podem ser tocados. Exemplos: aperto de mão, passar a mão na cabeça.
Você pode conferir o episódio #102 do Pontagrossauros completo no Youtube.