No dia 26 de junho, no Fórum de Jaguariaíva, vai a júri popular o acusado pelo feminicídio de Rosane Borges da Silva, de 55 anos. A vítima foi morta a facadas pelo companheiro, Laércio Tomaz de Miranda, em 15 de maio de 2024, dentro da própria residência, em Jaguariaíva, nos Campos Gerais.
Laércio, de 46 anos, foi preso em 18 de julho de 2024, após ficar foragido por dois meses. Ele foi localizado em Joaquim Távora, cidade do Norte Pioneiro que fica a cerca de 100 km de Jaguariaíva.
O julgamento vai definir se o réu continuará preso e qual será a sentença, caso seja condenado.
Família pede justiça
Rosane deixou três filhos e era conhecida em Ponta Grossa, onde morou e trabalhou por 11 anos em uma rede de supermercados no bairro Jardim Carvalho. Há cerca de quatro anos, havia retornado a Jaguariaíva. Familiares da vítima pedem justiça.
Luana Moura, filha de Rosane, conversou com a equipe do Portal Em PG É Assim e fala da mãe com muito carinho. “Minha mãe era uma mulher incrível. No dia a dia sempre muito alegre. Criou eu e meus irmãos sozinha, com muita luta e sacrifício, sem depender de ninguém. Sempre batalhou pra não deixar faltar nada pra gente”.
O relacionamento entre Rosane Borges da Silva e Laércio Tomaz de Miranda começou de forma tranquila, mas, com o tempo, passou a apresentar sinais de abuso e controle. Segundo Luana, os conflitos se intensificaram alguns meses após o início da relação. “Ele tinha muito ciúme dela e, aos poucos, foi privando a minha mãe de ser quem ela era, de sair sozinha, de usar certas roupas ou maquiagem”, contou. A violência, segundo os familiares, era principalmente psicológica e verbal.
Rosane tentou encerrar o relacionamento em algumas ocasiões, mas voltava por medo de possíveis reações de Laércio. “Ela tinha uma dependência dele e, de certa forma, medo que ele fizesse algo com ela ou com os filhos”, relata Luana.
No dia 15 de maio de 2024, Rosane comunicou que não queria mais continuar com Laércio. Segundo Luana, um dos irmãos foi até a casa da mãe pedir para que ele saísse, enquanto o outro permaneceu com ela. Rosane começou a separar os pertences do ex-companheiro, quando foi atacada. “Ela abraçou meu irmão e pediu ajuda: ‘ele me esfaqueou, me leva para o hospital’”, relatou a filha. Rosane foi levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. “Ele fez isso de forma fria e calculada, sem chance de defesa”, afirmou Luana.
Luana viveu o luto da mãe em meio a um momento que deveria ser de alegria: o nascimento do filho. “Meu filho nasceu no dia 18 de maio de 2024, de forma prematura, com 36 semanas. Além da dor do luto, tive que passar por um parto no dia do sepultamento dela”, contou. Rosane havia planejado ajudar a filha nos cuidados com o bebê, mas a tragédia mudou tudo. Durante os dois meses em que Laércio permaneceu foragido, a família viveu com medo de que ele voltasse a fazer mal a alguém. Pouco tempo depois, veio o diagnóstico de câncer da avó materna de Luana, agravando ainda mais o quadro emocional. “Nossos dias não foram alegres. Estamos tentando viver com o que restou. O que nos manteve unidos e fortes foi a chegada do meu filho. A gente não pode parar, por ele e pelo outro neto da minha mãe.”
Sobre o julgamento de Laércio, marcado para 26 de junho, Luana afirma que a data representa mais do que uma decisão judicial: “Espero que esse dia seja um marco na história do fórum de Jaguariaíva. Eu e minha família vamos fazer um manifesto pedindo justiça e pela luta contra o feminicídio” Ela diz esperar que o réu receba a pena máxima. Luana também deixou uma mensagem a outras mulheres que enfrentam relacionamentos abusivos: “Vamos lutar juntas, a união faz a força. Ao menor sinal, separe-se e nunca mais volte. Infelizmente, nossa segurança ainda é falha — a medida protetiva não tem evitado mortes — por isso, muitas vivem com medo.”
Sobre o caso
Segundo as investigações da Polícia Civil, o crime aconteceu após uma discussão entre o casal. Familiares relatam que Laércio tinha ciúmes excessivos e não aceitava o fim do relacionamento. Ele desferiu vários golpes de faca no abdômen de Rosane. A vítima chegou a ser socorrida com vida e levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
Após o crime Laércio fugiu. Foragido por dois meses, o acusado foi localizado cerca de 100 km de Jaguariaíva. Ele está preso desde então.
Estatísticas
De acordo com a Lei nº 13.104/2015, conhecida como Lei do Feminicídio, esse tipo de crime ocorre quando a mulher é assassinada por motivos relacionados à sua condição de gênero. Em 2015, essa forma de homicídio foi incluída no Código Penal como circunstância qualificadora, passando a ser considerada crime hediondo, com penas mais severas.
Dados do Monitor de Feminicídios no Brasil (LESFEM – UEL) indicam cerca de 346 casos de tentativa e consumação desse crime em 2024, no Paraná — quase o dobro do ano anterior, que registrou 184 ocorrências. Já o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam 2025) aponta 1.450 casos no Brasil em 2024.